23 de janeiro de 2012

De que tamanho sou?

Porque chega a altura em que tens de parar.
Chega a altura em que não deves lutar.
Chega a altura em que deixas respirar e deixas de tentar.
Chega a altura, em que o que vês é do tamanho de tão pouco, talvez do tamanho da tua altura.
Chega o tempo de não haver alento.
Chega o tempo de pensar distante.
Chega o tempo de ser indiferente.
Chega o tempo de falar para dentro.
Chega o tempo de não falar sequer.
Chega a hora de olhar para cima.
Chega a hora de não olhar de todo.
Chega a hora de ir embora, sem saber se dentro, sem saber se fora.
E quando chega tudo isto?
E quando chegar será que resisto?
E quando chegar é aí que desisto?
E quando chegar é sinal que existo?
Ou quando chegar é porque está mais que visto que não existo e aí se responde à primeira questão, se existo ou não.
Vivo a vida dos vivos pensando que estou vivo também.
Mas ao viver a vida como os outros deixo de ser o que sou, para passar a ser um simples alguém? Posso fazer esta pergunta? Posso fazê-la a quem?
Já vi o que tinha a ver nas margens desse rio.
Já passei todas as noites que há, sentado e gelado de frio.
Já não sei mais como olhar para o que ali está. Já não sei bem dizer o que falta ao meu olhar.
Já não sei se sei sequer o que estou a dizer.
Sei que é nos olhos que reside a razão do SER.
Se sou, posso não estar.
Se estou, posso não ser.
Não preciso de ser para estar ou de estar para ser.
Preciso é de ver.
Abraço-me à noite fria com todas as forças e sem cobertores.
É gelado que acordo e o dia não traz de volta as vozes dos senhores.
Quem sabe o que vai por aí para eu encontrar.
Espero sossegado que o dia brilhe sem razões de maior.
Porquê?
Porque ao sol se pede que brilhe e que aqueça as almas, sem esforço, sem objectivo aparente, ao Sol não se pede muito, não se pede que trabalhe horas a mais, ou horas a menos, ao Sol pede-se apenas que cumpra a sua função, que aqueça a alma do homem, bem como o seu coração.
E é pedir muito a algo tão poderoso?
Não.
É pedir-lhe que seja justo, leal e bondoso.
Não é caridade que faz ao aquecer quem o olha.
É sim pedir o favor de não deixar vir a chuva que molha.
E assim fujo ao eu tortuoso que teima em não se deitar.
São horas palerma, já mais do que horas para me poderes largar.
Vivendo a vida o homem aprende a crescer.
É com sol e com chuva que terá de o fazer.
Porque ser homem é bem mais do que deitar e acordar.
Ser homem é seguir o caminho que te leva e te traz de um para outro lugar.
É ser melhor e maior a cada novo pensar.
Levanta-te homem que é hora de começares a viver.
Tens a vida lá fora que grita e te pede para ver.
Onde vais? Mas onde é que pensas que vais, se é que pensas que vais?
Volta aqui que ainda não acabei.
A vida é tão longa e eu meu filho, Eu ainda agora comecei!

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