30 de março de 2009

O que os olhos não vêem o cérebro não sabe

Estranha a ideia formada de que tudo somos capazes de ver, com a magnífica ferramenta que a genética se encarregou de nos transmitir. Os olhos.
O que são? Para que servem? Perguntas triviais e básicas que qualquer ser humano, mesmo o menos instruído ou o mais estúpido são capazes de responder. O problema, é quando se pergunta a alguém, o que é que os olhos não vêem. Há dias deparei-me com essa mesmíssima interrogação, quando vi alguém na rua que julgava conhecer, rapidamente me apressei a chamar essa mesma pessoa. Primeiro num tom de voz mais elevado, pois a pessoa, seguia a alguns metros de mim. Seguidamente comecei a baixar o tom de voz, porque naturalmente ao fim de três ou quatro berros de peixeira de mercado, percebi que a pessoa não tinha sequer inclinado a cabeça à procura do som familiar, que corresponde ao nosso próprio nome.
Desiludido e frustrado, prossegui o meu caminho em direcção ao autocarro que entretanto acabei por perder, claro está. Na viagem para casa dei por mim a pensar, que o cérebro humano tem várias limitações. Como por exemplo, aquela que está relacionada com esta estúpida aventura que serve de introdução a esta pseudo teoria leviana. O nosso cérebro tem uma enorme capacidade de armazenamento de informação, mas não consegue fazer a "simulação" da evolução, do aspecto físico de uma pessoa. Ou seja, alguém que conhecíamos bastante bem, há 10 anos atrás, permanecerá para sempre gravada na nossa mente, como a pessoa e a figura que nessa altura conhecemos. Não conseguimos de modo algum saber como é a cara da pessoa 10 anos depois, se engordou, se envelheceu, se foi brutalmente espancada e agora tem os dentes partidos e a cara cheia de cicatrizes... NADA, ABSOLUTAMENTE NADA! E permanecemos nessa ignorância até voltarmos a encontrar a pessoa, seja lá onde for e como for.
Ou seja, o cérebro esquece as amizades para ter capacidade de fazer novas amizades, deixa de gostar de umas coisas para passar a gostar de outros. O próprio cérebro é selectivo e discriminatório. Se a sociedade é o conjunto das individualidades, então o conceito está minado desde o início. O indivíduo é sempre egoísta e selectivo, não há de a sociedade o ser em muito maior escala...
Coragem, nem tudo está perdido, resta-nos imaginar aqueles que conhecemos como imortais, até que um dia saibamos que casaram, tiveram filhos, viveram e morreram atropelados por um alcoólico de patins em linha... ou não.

26 de março de 2009

Penso, logo injusto

Na busca da identidade, não a dos outros, mas a nossa, acabamos por esbarrar no marasmo de confusão em que se transforma o nosso pensamento. Apercebemo-nos que sabemos tão pouco e que no entanto acreditávamos que éramos detentores de uma sabedoria inquestionável. Deparamo-nos tantas vezes com as encruzilhadas da vida, a que achamos que somos completamente submissos.
Existem momentos na estrada que percorremos, em que acreditamos piamente que estamos a controlar totalmente a situação, mas mais não estamos do que simplesmente a ser conduzidos por fatalidades incontornáveis, que são os acontecimentos em que nos afundamos.
O ser humano tem a natural tendência de acreditar que nunca é responsável por tudo o que cria, mas que o destino é, esse sim, impiedoso e maléfico e que nos castiga diariamente sem percebermos porquê.
Deixem-se de pieguices homens, assumam de uma vez por todas a privilegiada posição que têm e a fantástica capacidade com que foram prendados, o pensamento. Pensem antes de agir, mas não deixem também de agir sem pensar, porque quando pensamos que sabemos o que fazemos, no fundo não sabemos em que é que estamos a pensar.