24 de novembro de 2011

184 dias

Dias, noites, tardes, manhãs, madrugadas, alvoradas, palhaçadas.
Revolta, tristeza, fúria, lamuria, convulsão, depressão, aceitação, compreensão, entendimento, desenvolvimento, lamento profundamente, dor permanente.
Quem não sabe do que falo, não sabe o que se sente.
É o que é, e aqui estou de pé.
Só um momento, tenho de interromper.
Há um copo meio cheio que está sozinho, e sem mim não se volta a encher, e Meu Deus, à dor, a essa sim tenho de dar de beber, é só um instantinho.
E vai mais um golinho.... ahhhhh.
Retomemos.
Duvido e duvidei tantas vezes, esfrego os olhos que não abro e, não os sinto, há um certo prazer na loucura que só o louco percebe, há um certo temor na tristeza que só o triste consegue, há um certo pesar na forma como se escreve, mas há também uma dose de sobriedade que advém da busca do entendimento, de que nem sempre o triste se lembra.
Na verdade, procura pensar de menos nas coisas a mais, procura perceber quais foram os erros fatais, busca na amargura a frescura das figuras leais, e encontra na sombra a resposta para os dias, que tais.
Nem sempre consegue achar a resposta mais certa, nem sempre se lembra que dorme de janela aberta, é torta a linha que segue e que há-de seguir, o desencanto que sente no amor que deixa partir.
Ah poeta, palerma que sonha que há-de vencer, 
o terror dos dias de dor que jura jamais perceber.
Herói acabado de rosto tapado que teima em sorrir, olhando o futuro, guardando o passado, sonhando acordado com o que há-de vir.
Quem promete, repete, tal qual a cassete da fita comida,
É triste pensar, no horror de enterrar um ciclo de vida.
Mais dias virão, tens o caminho na mão, não sejas tristeza,
Serás o melhor, sabes isso de cor, com toda a certeza.
Poesias à parte, que para isso não há arte que explique a destreza,
De em parte montar, um fio de pensar, com toda a clareza.
E que melhor para completar aquilo que julgo dizer, com as palavras de alguém que na vida soube bem como custa, o sofrer.

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
 
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Contados, um após o outro.
Andei e andei e até aqui cheguei,
Ao longe conto as vezes que sozinho me perdi.
Sozinho, de pé, sentado, deitado, bem sei, o que é viver sem ti.
Acredito e sei que repito, talvez porque custa aceitar,
Que o futuro possa ser um lugar, onde tu não vais estar.
Mas no final de contas, olho, vejo, penso e sorrio,
Mesmo que por dentro o que sinto, seja o mais puro vazio.

4 comentários:

Luisa disse...

Chiça, profundo!!!

Joana disse...

Conto os dias, como tu. E no momento em que penso estar a levantar-me há sempre alguma coisa, qualquer coisa, que logo me atira bem para o fundo. Talvez seja só eu. Porque, de momento, sinto-me só, eu.

Carrucha disse...

Gostei! Sentido, mesmo do fundo do coração.
Conheço-te tão bem..............

Martim Mariano disse...

Meu fado.
Meus olhos, teus olhos, seus olhos, olhos meus.
E seguirei sempre assim, vendo e orgulhando-me de como o vejo.
E são meus olhos, e a eles não os trocava por nada desta vida