9 de julho de 2012

CINQUENTA, Mamã!!

Cinquenta anos são 18.262 dias mamã.
Upa, upa, puxadote.
Importa-se que lhe agradeça pelos meus 10.919??
Digam o que disserem, façam o que fizerem, inventem lá o que quiserem inventar, cinquenta anos serão sempre uma data memorável e impossível de não assinalar, de não decorar, memorizar, celebrar, festejar, marcar e aceitar.
Aqui chegado, é chegado também o tempo de perceber o porquê deste texto, o porquê da sua existência, da sua natureza, o porquê da celebração do amadurecimento, da vivência, da experiência, do sorriso, sim, esse sorriso, essa gargalhada solta e esvoaçante, essa alegria que tem tanto de alegre e perene como de absolutamente contagiante.
Quão difícil é ser a minha mãe.
Quão complicado é seres TU Maria Luisa, mas ao mesmo tempo, quão fácil se torna sentar-me aqui a escrever sobre si.
Recordo-me de tanto e de tanta coisa nestes quase 29 anos que se assinalam desde o dia em que a conheci, desde o dia em que corajosamente fez nascer o primeiro dos seus dois filhos.
Tinha apenas 21 anos, fresquinhos, acabadinhos de fazer. Pobrezinha, não fazia ideia de onde se estava a meter.
Não foram, muitas vezes, dias fáceis.
Foram noites soltas, horas vagas, choradas, tardes quentes, suadas, manhãs lindas de partilha.
Diria que foram, acima de tudo, intensas todas as experiências, conversas, educações e explicações, repreensões e ensinamentos sábios, foram também todas as coisas que quis(emos) e não quis(emos) ouvir, por absolutamente tudo e concretamente nada.
Criou dois rapazes sozinha, caramba.
Enfrentando de mangas arregaçadas, o futuro e o presente nem sempre inocente na demonstração da imposição fria e cruel da realidade.
Nem sempre fiz o que era certo, correcto, esperado e desejado, mas tentei sempre ajudar.
Recordo tanta coisa mamã.
Recordo as viagens nos autocarros antigos, sentados atrás do condutor, com os cestos de verga, com os termos, os sacos do supermercado, o mais novo no regaço, e transpirar de cansaço, mas nunca nos faltou o sorriso nem tão pouco aquele, o seu abraço. 
Nas pernas e braços partidos, nas febres e palavras doces aos ouvidos, no cabelo penteado e no passeio anunciado, íamos os três para todo o lado.
Dos flocos de aveia e da tapioca.
Dos campos de férias e do desejo que chegasse a hora de refeição, que tocasse o telefone, e nas colunas de Foz de Arouce se ouvissem os nossos nomes, para corrermos para o telefone, estava a sua voz do outro lado.
De comboio para a praia e do mano, em casa da avó, agarrado à sua saia.
Tenho, sem dúvida, um dos melhores e mais notáveis exemplares de mãe que esta Natureza um dia produziu e consigo perceber, a incomensurável dimensão humana das palavras simples que acabo de escrever.
O que é na verdade, ser mãe assim?
Fazer tudo, de tudo, por tudo, pelas duas crias que colocou no mundo.
Defendê-las com a tenacidade de um felino e com a supremacia agigantada de um quase secular paquiderme.
A minha mãe é de uma outra era, de um outro tempo, de um outro lugar que não este da mentira e da falsidade, da pobreza e da falência, da burla e da insolvência, da corrupção e da ganância, da falta de oportunidades desde tenra infância.
As noites de inverno, os recados no caderno, o toque do carteiro e a importância do mealheiro, a camisa mais bonita, o perfume mais cheiroso, a saudade.
Estive 6 meses sem a ver, sem olhar para os seus olhos, longe, na curiosa ironia de ter sido a mãe quem me permitiu estar lá.
E foram na verdade os seis meses mais difíceis de viver, mais duros de aprender, mais loucos de entender, mais lindos de se ter. E quando cheguei e a vi no aeroporto, tudo o resto ficou branco e nada mais importou.
Dos 49 aos 50 e dos 28 aos 29, tornámos-nos ainda mais nós, ainda mais fiéis, companheiros, mãe e filho, verdadeiros.
Não amo nem nunca amarei ninguém assim.
Porque de facto, para mim, não há ninguém assim, não existe, é impossível serem duas, existir uma outra, igual, impossível.
Já festejámos tantos, mas lá está, cinquenta são cinquenta mamã.
Que este seja, um novo começo, uma nova era na sua vida, sempre para cima e nunca para lado algum que não esse.
Sou assim e serei sempre, imparcial, porque do seu sangue nasci e é esse sumo que me corre nas veias.
Consigo serei sempre partidário, e ai de quem me queira tentar convencer do contrário!
Ser seu filho é ser Pedro Maria e ser Martim, Neto Mariano pois claro.
Não podia ser de outra maneira.
Há palavras que nos trazem as pessoas aos olhos.
Mãe, traz aos meus a vida.
Parabéns mamã, muitos parabéns. 
Pelos de hoje, por tudo e por todos, pelo antes o agora e o depois.
Um beijo, do mais velho.

1 comentário:

Um Café e um Bagaço disse...

Absolutamente... nem sei... gostava tanto que as minhas filhas um dia me dedicassem um texto destes... tão bonito... tão bonito...