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23 de junho de 2013

Sou português, e agora?

É um pouco disto e também um cheirinho daquilo e, no fundo, mais não é do que um pouco mais do mesmo.
Nasci em Lisboa, há 29 anos, ou quase 30.
Há muito dirão alguns, há tão pouco digo eu, parece que foi ontem dirá eternamente a minha santa mãe.
Vou deixar de escrever como escrevo muitas vezes.
Vou deixar de dizer as coisas como digo outras tantas.
Escrevo do que falo, do que ouço, do que escuto e o que penso.
Penso que escasseia o bom senso neste revolto espaço imenso.
Sinto que não há sentido no sentido em que estamos.
Sinto que o pior não é o que já passou mas aquilo em que já nem sequer pensamos.
É como se o pior pudesse chegar no dia em que já não se puder prometer nada a ninguém!
De tudo acontece, tudo se passa e tudo se sabe e se vai sabendo, tudo se faz e se vai fazendo, a todo o lado se chega e de tudo se fala e se vai falando, mas o sonho morre de quando em vez e também, por vezes, de vez em quando.
Mais na vez do que no quando.
Quando chega afinal a vez?
O que é isto afinal de ser português? 
Tenho para mim que somos, Nós, os portugueses, com toda a insofismável certeza, o mais crente e dedicado povo de toda esta Europa quase anciã.
Somos possivelmente os únicos que continuamos a acreditar que um dia isto vai melhorar, que, como diz o "nosso" Jorge Palma "enquanto houver estrada para andar, a gente vai continuar".
Somos do Fado, do agrado, do sol e do peixe assado, do caldo entornado, do almoço bem regado, do carapau e do bacalhau demolhado, do caracol e da sardinha, continuamos a acreditar que a gente em Espanha é boazinha, que podíamos ser todos o saco da mesma doce farinha. 
Pomos gente invertebrada, bem vestida e bem sentada, a falar na televisão.
E o povo? Comenta, mas rapidamente aceita, acredita.
Come e não vomita, sofre e já nem grita.
Acreditamos nos de fora, nos de dentro, em todos e mais alguns, nas previsões e correcções, nas alterações das correcções, em quem diz palavrões, em quem nos aperta os... botões!
Será que algum dia existirá maldade dentro dos nossos corações?
Será que nos tornaremos algum dia capazes de grandes manifestações?
De romper com tradições?
Algum dia deixaremos de ter medo dos bastões?
Como quando enfrentámos lanças, arcos, flechas e canhões?
Será que aos bolsos nos podem amavelmente devolver os tostões, descaradamente furtados em impostos como sempre justificados e mais do que precisos.
Confusões e sensações em sacos e sacões de sentimentos confundidos, de horizontes percorridos e de sonhos destruídos.
Quem é o guardador do rebanho?
Será por ventura um homem só ou alguém do meu tamanho?
Na verdade pouco ou nada se sabe, pouco ou nada nos dizem e no fundo não há porque não deixarmos de perguntar.
Há sobretudo uma vontade imensa de parar de sofrer, de abandonar o queixume vazio e desprovido de justiça, uma vontade de ver a vida a cores, com degradês, de ouvir entoações e entoares de cantos mil... de ver nas janelas a geometria das figuras humanas e animais, de sol tapado pela peneirice dos ombrais.
E tu?
Estás disposto a quanto mais?
Estás perdido em arraiais, insensível e despreocupado, a ti tudo te passa ao lado, dizem.
A ti tudo te é igualmente perdoado, atiram.
Pois se não te sentes incomodado, se não estás sequer preocupado, mantém o bico calado e a fronha virada para o nada, para que não seja necessário seres daqui corrido à bordoada, ao murro e à estalada. Palhaço. 
Devolvo à alma ao teu regaço, cansado de tanta apatia. Sento-me à beira dos teus sonhos e observo-te com magia. Estrelas mil que me guiam na tua noite e eu sem saber mais em que luar me deito. Sei somente apenas que me encosto de qualquer jeito. Deixem-me morrer sossegado com a cabeça sossegada no teu peito. Daqui a nada ressuscito e lembrar-me-ei de sorrir, sim?
Divirto-me, quase que diariamente, a ver os portadores da sabedoria intelectual dos deuses, pavonearem-se com frases refeitas e transcritas, com ideias atrofiadas e quase esquisitas, com definições de amor tão eruditas que denunciam uma coisa só. Estúpidez.
Como se define algo que não tem definição possível?
Como é que se chega à presunção de que amar é qualquer coisa?
Amar não é nada, porque o amor é tantas vezes uma filha da putice pegada.
Amar não é unir é dividir.
Amar não é colar é partir.
Bando de coladores de letras em palavras confusas.
Bando de anormais com ideias obtusas.
Escrevam sobre o que sabem o que vivem e o que sentem.
Não escrevam sobre o nada que não vivem e não entendem.
Podíamos antes pensar e escrever que não há amor como o português. Não há calor como o deste povo que Deus fez e a ganância desfez.
Devíamos não querer visitar cidade alguma de país nenhum.
Devíamos ter tanta vontade de ir aos países dos outros como os outros deviam ter de visitar o nosso.
Devíamos tirar a maquilhagem às cidades, engalanadas prostitutas que se deixam comprar por valores arredondados de turistas deslumbrados.
Nem mesmo à noite lhes damos descanso. 
Assim ficam assadas, de entranhas revoltadas e olheiras denunciadas, apodrecendo sós na imensa noite (im)pura, mas às cidades ninguém presta atenção, interessa apenas desviar a merda do cão, tirar a maquilhagem é coisa para a puta de salão.
Dormir borrada é na cidade a condição!
Na noite... Não, na noite não.
Deixa-me antes reformular.
Na madrugada esquecida, desvirginada e ofendida, perpetua-se o sabor dos cigarros e dos copos de vinho, dos amendoins e do tremocinho, mas sempre sem tirar a pintura, que no manter da compostura, e no prolongar da candura mentirosa, muito pouco escrupulosa, engana até o mais atento.
Ser homem é mais do que isso. 
É identidade e compromisso e vida no trinar das cordas de aço.
Ser português é fado e futebol, é fátima e... tanto mais... Tem cuidado que ainda cais. 
E eu que te amo tanto que não sei sequer o que isso significa?
E eu que de vez em quando, mais no quando do que na vez, me apercebo dos porquês e das significâncias intermitentes que existem na condição do ser-se assim... ser-se Português.
Sou sim, e agora?
Agora?!
Já dizia o outro: Agora mija na mão e deita fora.







19 de novembro de 2011

O que é na verdade!?

Contentamento descontente? Fogo que arde e não se sente? Seres alma e sangue e vida em mim, e dizê-lo cantando a toda a gente?
Quantas e quantas vezes me perco nas deambulações cáusticas da palavra, nas expressões desencontradas da racionalização do sentimento, ou nas intemporais buscas de razões ou vocábulos, que melhor definam o que é tantas vezes inexplicável, se não quase sempre, impossível de verbalizar.
Os caminhos são estradas sinuosas, cobertas de tudo o que são elementos de tempo e espaço.
As manhãs de nevoeiro, as tardes solarengas, as madrugadas quentes de borralho, as noites intermináveis de chuva forte e desmedida, que nos acerca e ensopa, e nos faz perceber que igualmente ensopada e cercada é tantas vezes, a própria vida.
Mas há caminho, há toda uma via rápida de incerteza que não deixa de ser igualmente sensitiva e deslumbrante.
Crescer é de facto uma maravilha aos pés de quem, descalço, se atreve a sair à rua.
Tão sabiamente alguém um dia escreveu, que dar de beber à dor é o melhor, e tem noites que sim, tem tarde que nem tanto, e manhãs em que é um pouco de qualquer coisa do género.
Aproximo-me das 04h00, sem saber para onde caminho, sei que vagueio aqui sentado, mais sereno, ligeiramente encostado, em pose altiva de conselheiro revivalista do passado a que me apego.
Dele não vivo, mas dele me sirvo, a ele sim dou eu de beber.
É nele que vive a réstia de amargura, que não teima mas perdura, sem saber onde se esconder.
Não te vejo, mas pressinto-te, sem o vinho eu não me minto, que de fugas se faz o sobrevivente.
Querer ser inteligente, passar ao lado, seguir em frente, mudar o ar, ser diferente, é pedir demais a quem não segue as estradas principais.
Na poesia sonora das ruas por onde passo, encontro de tudo um pouco, e em tudo, absolutamente nada.
No nada descubro porquês, descubro ainda mais, descubro-me a mim.
E é de mim que preciso.
A ti vejo-te tanto, como tão pouco sinto que o faço, sei bem o que te chamo, chamam-lhe amor ou chamem-me louco, por mim é apenas mais uma frase num pedaço.
Estranhamente desligamos uma parte do cérebro que nos permite manter o fiel, sempre necessário e de preferência conveniente raciocínio, quando nos apaixonamos, ou quando simplesmente assim estamos.
Não raramente sofre, não frequentemente sente, que é aquilo que mostra a toda gente, a alegria permanente, de quem sente o que mais ninguém desmente.
Viver é aprender, amar, errar e sofrer, é perceber, que no entanto, não há nada que não se tente, se é isso que deveras se sente.
Vida, mostra lá que não és pequena, que não enganas quem te ama, nem te mostras tão serena, que acalmas quem te chama, e que de facto vales a pena.

14 de novembro de 2011

Estupidez é não ser nada

Os encontros e desencontros são tudo menos ocasionais.
Por ocasional entende-se tudo o que é fruto da ocasião, que é imprevisto, eventual, acidental ou fortuito. E encontros e desencontros não podem ser ocasionais, não podem ser fruto de acasos ou de acidentes.
A vida mostra-nos que praticamente tudo dentro dela serve para retirarmos uma qualquer propriedade, ou mensagem, ainda que à partida seja completamente estapafúrdia, irreal, ridícula ou inexistente, mas que na verdade estamos a viver o que estamos a viver por algum motivo, e não apenas como fruto da ocasião.
É contraproducente pensar-se que existem cosias que nos acontecem por acaso, e que só por acaso é que estamos a viver ou a presenciar o que quer que seja.
Vá lá, somos mais inteligentes do que isso, penso eu.
Cair na estupidez é fácil, é simples e não dá trabalho nenhum, nenhum, mas ao mesmo tempo é, como é que hei-de explicar isto... ESTÚPIDO!
Somos o que fazemos e caminhamos para onde queremos, não vale de nada atirar as culpas para cima das casualidades.
Certo dia Pedro acordou e a sua vida mais não era que um retalho estraçalhado do que outrora havia sido.
Não morava onde morou, não amava quem amou, não chorava por quem chorou, nem chamava que chamou.
Não comia o que sempre comeu, não bebia o que sempre bebeu, não via o que sempre viu, pensou até que o seu nome não era mais seu.
E de facto não era, era o nome que a sua mãe lhe deu.
Deixou de comer porque quis, deixou de ver porque olhou para outro lado, deixou de amar, porque estava já cansado, e deixou de chorar porque as lágrimas se tinham esgotado.
Não Pedro, nada disto foi por acaso.
Deixaste porque quiseste, porque foi para lá que caminhaste, foi para lá que te dirigiste.
Se te arrependeste, tens bom remédio, dá meia volta, arrepia caminho e recomeça a procurar tudo o que sempre foste, tudo o que sempre amaste, tudo o que sempre quiseste e sempre desejaste.
Nunca é tarde para tentar.
Nem cedo para se deixar.
Agora serás um eterno palerma se permaneceres sentado no mesmo lugar, lugar esse que dizes aquilatar de uma forma já vulgar.
Ser estúpido é um sinónimo tão bom para... ser inerte, parado, constantemente conformado, resignado e já disse que tudo é a mesma coisa que ser ESTÚPIDO não já?
É sempre bom terminar de forma esclarecida.
Pedro voltou assim à vida.
Se era tudo o que ele queria? Nem ele sabe. Vai atrás e depois verá, se no sítio onde está se vê melhor do que se via.