Respirar livremente é algo que me transcende.
Obviamente que o respirar mais não é que uma metáfora para tudo o que se me aparece no pensamento, quando penso na palavra e no conceito da própria respiração a que me refiro.
Refiro-me ao olhar, ao tocar, ao pensar, ao sonhar, ao tentar, desistir, vencer e convencer, errar e perceber, crescer e descobrir, ao caminho a seguir, às noites de luar, às estrelas no olhar, ao mais puro arrepiar, ao poder de um abraçar, ao não saber o que pensar e mesmo assim continuar, ao sorrir e ao brincar, ao gostar e detestar, mesmo quando dou por mim a chorar.
A Liberdade tem cheiro.
A liberdade tem o cheiro do cheiro que quero que tenha.
A liberdade tem sabor.
A liberdade sabe a tudo aquilo que quero que ela saiba, e mesmo ao que não quero também.
É morango, ananás, e que bem que ela faz, são abraços e beijos, vinhos tintos e queijos, sal e pimenta, a cebola, que é nojenta, e essa liberdade não se aguenta...
Sabe ao sabor do vento, ao refinar do pensamento, à tristeza do lamento, ao "chega que já não aguento".
Mas sabe também à frescura do mar, à ternura de um olhar, ao ingénuo arrepiar, sentes a minha mão a transpirar? É disto que estou a falar.
Por vezes, aprisionamos-nos na incerteza do que está para vir, com a tristeza do que para trás ficou a pesar sobre o pensamento, como se fosse de facto um monumental bloco de cimento que não largamos, mesmo quando nos deitamos.
Que vida é essa a que nos submetemos se somos de facto responsáveis pelas maioria das escolhas que fazemos?
Não incluo as crianças neste grupo de superiores entidades que podem decidir o curso das suas vidas.
Quem as tem, quem tem a felicidade de as ter, sabe também, que a essa felicidade vem juntar-se responsabilidade e sobretudo, a conta passa a ser sempre feita a + 1, com a felicidade que daí advém, mas não estou aqui para falar de ser pai ou ser mãe.
Ser livre é na verdade a melhor prenda que Deus concedeu ao homem, que tantas vezes subverteu e subverte essa veleidade divina, com o subjugar dos seus pares a vontades obscuras e sobretudo, egoístas e pessoais.
A liberdade de escolha é talvez a grande liberdade do ser humano.
Existem várias, e é minha crença, nos dias que correm, que a liberdade é tão mais vasta em formas quanto mais formas conseguimos para ela criar, na vastidão de uma curta vida.
A vida é mais curta ou mais longa, divertida ou aborrecida, mas no centro de tudo isso estão as escolhas, as certas e as perdidas.
E é de escolhas que trata a liberdade, pelo menos a liberdade dos tempos modernos.
Não quero pôr-me aqui com pretensões neo-filosóficas ou pós-modernistas, julgando que para isso tenho qualquer tipo de competência, nada disso, simplesmente se vai tornando cada vez mais evidente que tudo assenta aí, nas escolhas que fazemos, nos tempos que damos à nossa própria vida, aos pensamentos, sentimentos, vontades, verdades, mentiras, empregos, trabalhos, ocupações, bens materiais, imateriais, objectivos, rupturas, fracassos, falhanços e desesperos, vitórias e tantas outras histórias, memórias, lembranças e certezas incertas.
Mas de facto temos o poder de escolher, de mudar, de escolher para o que vamos mudar, de escolher igualmente o que não queremos, não gostamos, não temos e onde não vamos!
E ao ir, chega toda uma variedade de possibilidades e na escolha reside a vida.
Somos nós próprios, reflexo de uma escolha de outras duas pessoas, ou de uma apenas, mas somos escolha, escolhemos e seremos as escolhas que fizermos.
Na vida, amamos, perdemos, ganhamos, odiamos, magoamos, ajudamos, tratamos, cuidamos, protegemos, agredimos, batemos e somos batidos, surpreendemos e somos surpreendidos, vivemos e somos vividos e sobretudo passamos toda uma vida a escolher entre o que queremos e o que não queremos, por isso, tantas vezes sofremos tanto com o que não queremos, porque já o pensámos tanto anteriormente.
Isto não é sequer condenável, nem criticável, é factual, facilmente constatável e adquirido como algo que é assim mesmo. Não há volta a dar, e pensar nisso tempo demasiado, é dar ao tempo, claramente o destino errado.
Somos a vida que vivemos, por isso estamos obrigatoriamente condicionados pelas ligações, conexões, automatismos, amizades, amores, desamores, felicidades e horrores, tristezas e dissabores que nela conhecemos.
Não há como fugir disso.
Somos o meio e o produto desse meio, somos reflexão e conhecimento e sobretudo creio que devíamos (e é de forma propositada que não utilizo o tempo verbal no presente (devemos), mas apelo antes para uma sonhadora visão... enevoada pela forma como olho a vida) ter todos uma dívida para com o pensamento, devíamos todos ser mais do que sinceros para com a Alma que carrega o corpo debaixo do braço (João Pedro de Carvalho).
A vida é diária, não tem folgas e não é "dia sim, dia não", é feita do girar da terra e da diferenciação forçada entre Noite e Dia, escuro e claro e as diversas tonalidades que pelo meio se misturam, são todas elas vividas, e as vivências, tantas há que não perduram.
O que será que procuram os que ao pensamento fogem?
Que escolha faz quem desiste de si mesmo?
Que forma é essa de cheirar a Liberdade?
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