25 de novembro de 2011

Palavras, para quê?!

Passam-se e seguem-se.
Olhares de redoma, transcritos numa fonética imperceptível.
É normal, não sou de cá, e demoro a perceber o que dizem todos estes... habitantes do mundo que não conheço.
Tenho tempo.
Café? Não obrigado.
Chega-me um bolo e um sumo.
A manhã ainda é curta e o tempo não escasseia.
Meto a mão ao bolso e procuro a...
Aqui está, nunca saio de casa sem ti.
Chego a ter a sensação que nunca chego a sair de casa, e se saio, não me dou conta de onde parei e de mim me esqueci.
Sou quem sou e tu quem és?
Apresso-me e lembro-me que vou trabalhar.
Chego de cara fechada, e tu também, com um intervalo de cerca de dois sinais vermelhos, um acidente na faixa da direita e dois eléctricos cheios, tudo isto dá um total de aproximadamente dez minutos, mais coisa menos coisa, mais buzina menos buzina, mais trânsito na esquina, e a senhora de idade na passadeira, que segura com força a carteira.
Convergimos de maneira estranha mas em simultâneo observamos que é redondo o prisma torto do local onde nos sentamos.
Passam-se as horas, o trabalho preenche o vazio do esquecimento, mas não deixa de ser um tormento ter que te aturar.
No relógio está a constância perene da vida, que te informa, que a passos largos há mais um dia a passar, e tu, meu caro, tu que continuas sem saber como o dia vai acabar.
Parece pouco importada em conversar contigo, mas também é melhor assim, não terias grande coisa para lhe dizer, pois não? Na verdade, não terias nem sequer nenhum tipo de conversa aprazível para ter com ela.
Do tempo não sabes falar, de comida? Não sabes cozinhar. Da vida, não saberias sequer por onde começar.
O que estou para aqui a dizer? Sou suficientemente pessoa, para conseguir conversar com outra pessoa qualquer, até com ela...
Sou suficientemente alguém para poder dizer também aquilo que o mestre (Pessoa) disse:
"Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?"
Posso até ter vergonha, posso até corar de lamento, dar a entender que sou fraco e não aguento, mas no fundo, sei que sim, que posso, que consigo dizê-lo assim, porque sei quem sou, e sei o que é feito de mim.
Tentarei de novo amanhã, conversar, porque para amar é preciso bem mais do que um atraso no trânsito, bem mais do que a senhora na passadeira que se agarra à carteira.
Conversar não, isso é bem mais simples, basta abrir a boca e seja o que a conversa quiser, seja homem, mas sobretudo, seja aquela mulher!
Conversamos tantas vezes, e tantas outras não o fazemos, limitamos a conversa à falta de assuntos porque não é conversa que queremos, nem para conversa que estamos.
É um jogo este, o paradigma de viver, e por isso assim eu escrevo, porque há tanta coisa para ver, e sobretudo há tanto para dizer.
Nas margens, de rios, de folhas soltas, de conversas, de olhares, de sons e cheiros, reside tantas vezes o oposto que se aproxima, o perto que se afasta e se torna irremediavelmente distante e longínquo, que nos remete para a lembrança.
Quando partimos e viramos costas ao centro, deixamos para trás tanta coisa, mas há algo que sempre me faz lá voltar, as palavras.
Essas ninguém te as tira, ninguém te as leva, são tuas, sob direito inalienável de propriedade, porquê?
Porque sim.
Porque o que é teu às tuas mãos vem parar, e as palavras, caem-te nas mãos como se de folhas das árvores se tratassem.
Não julgo os acontecimentos, julgo os momentos que levam às realidades congénitas que atravesso e, assim cresço, assim assimilo o que o real me reserva.

E assim, é bom poder dizer, que leva tempo a perceber, mas que quando chegas ao R/C da compreensão, e olhas o topo visto de baixo, sabes que o caminho é longo e arrebitado, mas que ao caminho estás interiormente ligado e vinculado, com ele fazes o teu compromisso, e ao mesmo, te manténs quase fiel.
Deixa-te ir, apodera-te dos fins-de-tarde, e adormece a teu lado as noites frias, que no mundo há sempre lugar para mais um sonho.



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