12 de dezembro de 2011

Ideal... Surreal

Surreal - Adjectivo uniforme. Que desafia as supostas leis do real. Absurdo. Bizarro. Onírico.

É. É capaz de até ser. Pode mesmo ser que seja, mas não é isso que o torna menor, inferior, simplista, ridículo ou mesmo, inexistente.
No caminho noctívago que diariamente percorro, e em particular nesta altura específica do ano, vejo as árvores chorarem desconsoladas, deixando cair as lágrimas coloridas que as revestem, no chão ingrato que as recebe e permite que estas escorram sabe lá Deus para onde.
É. Pode ser. Pode até ser que seja apenas dos meus olhos delirantes, da imaginação surrealista que me orgulho de ostentar, mas o que certo é que as árvores choram. Se os homens choram, os animais choram, porque não haverão de chorar as árvores?
Choram pois, e com razão.
Também eu choraria se fosse despido pela Natureza, com promessa intemporal de devolução da minha roupa, e fosse deixado ali, aqui, acolá, despido do que é meu, sozinho, numa revolta surda, que ninguém pode ouvir.
São surreais os sonhos, e surreais os desejos, mas são belos por demais aos olhos de quem os vê.
Na manhã, o acordar expõe a derradeira fragilidade das árvores, que teimam em resistir de pé, ao embaraço que a Natureza lhes provoca.
E não falo apenas das árvores, mas dos animais a quem o pêlo cai, dos homens a quem o cabelo foge, das senhoras a quem o mesmo a escova surripia. 
Outono, inverno, estações que têm o condão de enervar as gentes e encher-lhes os olhos de preocupação e tristeza.
Se é meu, porque mo tiram?
Soldados do acreditar, os sonhadores parecem seres indestrutíveis, que caiem, levantam-se, apanham, voltam a cair, a levantar e onde é que isto vai terminar? Em mais um sonho difícil de alcançar?
Possivelmente. Mas nem isso parece ser suficiente para os fazer parar.
Diz-se que sonhamos com as coisas em que pensamos antes de adormecer. 
É. Pode ser. Pode até ser. Será mesmo?
Quero pensar e adormecer, sem ter nada que temer, quero dizer a viva voz, sou maior que o que desejo. Ter coragem de querer, ter a força de viver, para ver o surreal, tomar forma e ser formado, por um ser que não tem parecer, uma força incansável, que me pega e me arrasta, me levanta e não diz BASTA, sou quem sou e sei que posso.
É. Pode ser, podia, mas não era a mesma coisa.
O que é o amanhã, se não a indefinição surrealista que criamos na mente, projectando desejos e espirais de acontecimentos que temos como certos, mas que no fundo, não são mais que muros limitadores da criatividade do artista?
Surrealista? Pois bem. Assim somos todos. Se não somos, devíamos ser, sabe-se lá onde esta vida quer ir buscar de beber.
Ser quem sou é tão pouco, para aquilo que quero ser.
Sei que tenho de sonhar mais, dormir menos, pensar mais, dizer palavras que façam pensar grandes e pequenos, é isso que quero procurar, digo quero porque neste momento, escrevo em folhas brancas, que não saem de onde as guardo.
Um dia falarei para que me escutem com atenção.
Sou sonhador e serei, trago o selo no coração.
Só caminho num pé, para o outro guardo o que calço, imaginando o que seria, se caminhasse toda a vida descalço.
Ao meu nome devo o que sou e a poucos outros o que me compõe, a ti devo a alma, essa que agora se acalma, com a solenidade do que lhe deste.
Claro que a ti te agradeço, foste surreal, imaginação, um real calor no coração, foste o céu e foste o chão, o estômago e o pulmão, e o nome, que guardou a pulsação.
É. Pode ser. Pode até ser que "Eles não sabem que o sonho, é uma constante da vida, tão concreta e definida, como outra coisa qualquer(...) é tela, é cor, é pincel(...) Porque sempre que o Homem sonha, o mundo pula e avança" por isso, deixa-os Senhor, que eles não sabem o que fazem.
Por isso insisto. É. Pode ser. Pode até ser. Mas eu vou sonhar. E tu, o que vais fazer?


1 comentário:

Luisa Mariano disse...

Adorei Martim! Continua, mais e mais! Quero ler sempre e vou gostar sempre! bjs