25 de outubro de 2009

o poder de uma mesa.

Escrever é algo que a muitos diz respeito, mas que poucos têm paciência para o fazer de livre e espontânea vontade, seja por falta disso mesmo, por se acreditar na falta de talento, que por vezes é realmente mais do que evidente, ou mesmo porque acima de tudo não somos iguais, porque as diferenças que distinguem o ser humano são mais que muitas, e é essa maravilhosa heterogeneidade que torna este planeta um local tão... parvo, e na parvoíce reside por vezes a incapacidade capaz de cegar.
Mas parvo, no sentido positivista da parvoíce. Sei que será por certo difícil entender a parvoíce como positiva, que será complicado imaginar uma plataforma possível para enquadrar a estupidez e a parvoíce com a graça e a comicidade, mas digo-vos que é mesmo, como é que sei? Eus ou um autêntico parvalhão, mas um parvalhão engraçado, que não rejeita, muito pelo contrário, essa etiqueta.
Ora, voltando ao que interessa, que foi por isso que aqui vim a esta hora, que acaba de mudar, o poder de uma mesa, e a sua relação com uma prática literária mais coerente, criativa, crítica, eficaz e acima de tudo consistente.
Passei meses a trabalhar em cima do joelho, literalmente. Priemeiro foram os cadernos, as canetas, o papel, essa antiguidade quase classicista, onde muitos escreveram durante séculos e que agora é substituido por esta maravliha da tecnologia que é o computador portátil.
Estudava, sempre na véspera do testes, dos exames, fosse do que fosse, sentado na cama, curvando a espinha dorsal, tanto quanto possível, a fim de me enquadrar o melhor possível com os cadernos, os livros, os apontamentos, os sublinhados, etc.
Foram, muitos, bons, loucos e longos anos de posturas incorrectas, de dores esquisitas, parvas, mas desta feita no sentido negativo da palvara, o mais comum, e sobretudo de cansaço desnecessário.
Hoje, tudo isso foi agora posto para trás das costas, passei o dia de ontem excitadíssimo, como uma criança, que entra num parque de diversões pela primeira vez, porque sabia que ia finalmente comprar uma secretária. (Vejam bem como se pode fazer uma criança feliz com tão pouco hoje em dia, basta ir ao gigante das soluções, nãaaaaao, não é o Isaltino Morais, nem o Valentim Loureiro, estou a falar do Ikea)
Assim foi, hoje comprei-a, vim para casa, montie-a, e aqui estou agora, direito que nem um fio de prumo, uma viga de aço. O gosto e poder que esta nova postura criativa me confere, é qualquer coisa de extraordinário.
A vontade que sinto agora de me debruçar sobre estas teclas é inquantificável.
É como se se tivesse acercado de mim, a alma geradora de incentivo e de dinâmica que por vezes parecia perder-se entre as molas cansadas do meu colchão, que levou comigo durante anos, a perpetuar posições escabrosas e pressões desnecessárias, quando tudo o que ele pedia, era sossego, era que fosse morrer longe, que aqui viesse apenas para dormir, ou para brincar aos médicos, tudo o resto, que eu insiti durante anos em perpetuar, que fosse feito longe, lá para os lados da... mesa da sala por exemplo.
Enfim, quem escreve tem de se disciplinar, de se motivar, de se vergar, mas acima de tudo, tem de o fazer numa mesa, caso contrário, está o caldo entornado e o colchão estragado.

4 comentários:

Rita disse...

Acabaste de retratar aqui o meu mais recente dilema. Pois que nunca mais arranjo uma secretária logo estudo/escrevo na cama, e como escrevo nessa que dizes ser a maravilha da tecnologia, seria de pensar que nem tudo é mau dadas as circunstâncias. Mas é, o computador é portátil mas a internet nem por isso e por esticar demasiado o fio até à cama estraguei-o, pelo que para estar a enviar este comentário estou a fazer uma ginástica monumental, bem ao estilo de quem estuda deitado no colchão. E, sem querer rimar, estou a pensar lançar uma petição a favor de uma mesa no meu quarto para ver se comprovo o seu poder.

Martim Mariano disse...

Ora posi escrevi esta palermice, porque acredito que haverá muito boa gente com o mesmo problema.. se é que se pode chamar a isto um problema, diria que talvez seja mais uma questão... Ou um problema da questão...
Pois não sei..
Enfim, sou hoje uma pessoa com menos um problema, oh, com menous uma questão...

Catarina disse...

vivam os pedaços de madeira que nos abrigam sem saberem a vida que têm e que proporcionam...desejo-te muitas palavras e vidas nessa mesa que "quiçá" poderá proporcionar muito mais do que simples palavras...vida!

Rita disse...

Só para te dizer que te considero a voz da razão, por variadíssimas razões.