Lateja furiosa a carótida.
Tremelica imprudentemente a mão que ladeia a paixão, a minha é a direita, a mão que tudo aceita, a mão jamais desfeita, a mão com que escrevo e abro a porta de casa, a mão com que peço desculpa quando alguma desculpa me atrasa.
São impulsos danados estes.
Impulsos de raiva pouco aconselháveis, mas... surpreende-me a novidade da minha serenidade.
Surpreende-me a constância da calma e da ponderação.
Quando se estranha a motivação desconhecida e se troca a certeza perene da vida, por vezes passa-se ao lado do princípio (i)maculado e tantas vezes ignorado.
Agora é o olho a tremer...
Diz que dá 3 dias antes de morrer.
Não sei se sim, não sei se não, sei que nem sempre anda sereno o coração.
Porque continua a tremer a mão?
No Outono as folhas e tudo nos cai.
No Inverno é a alma que de casa não sai.
Talvez com medo da gripe errónea que, qual messiânica previsão, antecipa a queda da torre de Babel, que dias tem em que parece ter sido feita de papel.
Rosno à lua triste não sabendo já, se ela sequer existe.
Escrevo porque quero, porque posso e porque sei, escrevo lembrando o dia, um dia, dia em que tanto dei.
Mas no imediato fica o retrato do que mais não se vê e mais não se sente.
Os dias são tristes, são mesmo, carregados de hediondas (in)verdades, incríveis incertezas sem prazo de validade e no centro de tudo isto, o homem, o cidadão, o contribuinte, a pessoa, o ser humano, desumanizado, que cresce com ego revoltado, amargurado, que vê em tudo o letreiro "complicado", que vê tudo a vender ou a ser arrendado, que vê tudo nos outros e nada tem comprado, que vê os rostos dos que comem à sua frente e se deitam ao seu lado. É a composição do decomposto inacabado.
E para lá, o outro lado?
O que estará por lá reservado afinal?
Haverá por lá casas com jardim ou quintal?
Haverá por lá o país a quem chamamos Portugal?
E as noites com estrelas de verdade, pontos de luz por cima da cidade, onde triunfam os sonhos de crianças e as vozes graves das correntes da esperança, cada qual dançando a sua dança. É ou não o melhor do mundo, ser criança e guardar sonhos nas estrelas dos céus que nos tocam na noite os cabelos, nos guardam os segredos e serenam os medos?
Se neste momento fosse educador de infância, a área em que me licenciei, na verdade, faria com eles uma "chuva de ideias" sobre A CRISE, para perceber, qual a percepção da sua captação e sei, porque quem sabe não esquece, que as respostas seriam surpreendentes, mas mais do que isso, seriam respostas inocentes, crentes e eloquentes, dos mestres do surrealismo que são as crianças e o seu anti-alarmismo!
São as medidas, as taxas, as subidas, os cortes, o défice, o PIB, o IVA, o IRS e o IRC, a culpa é do PS do CDS e do PSD, a discussão não tem porquê, nem a troika e os fundos, a crise da dívida, os mercados e parece que já vem lá o fim do mundo.
Parece que apita na estrada escura, se esgueira na noite fria e mais parece não ter melodia que se escute no seu silêncio soturno
Ainda hoje ouvia na minha mente, nas repetições de nível tão frequente, a música dos REM, "it's the end of the world as we know it" e na verdade pode bem ser isso mesmo.
E olho que não pára de tremer e a carótida e o seu teimoso pulsar, mas a mão, a mão essa escreverá enquanto o olho deixar.
Essa escreverá tanto, tanto, mas tanto quanto a outra conseguir aguentar!
É promessa, é destino, é talvez o que espero e desejo, o que penso e não vejo, não sei bem o que pensar.
É turvo o descansar.
É.
Pensar e não chegar.
E talvez acreditar que a sina vai mudar.
Já dizia a fadista que era triste a sorte que nos guia até à morte.
Pode a sorte ser tão malfadada assim?
Não pode.
O que tem princípio, tem meio e tem de ter um fim, mas no durante, há a continuação.
Dessa, não abdico, não abdico não.
Tá quieta, pára, não escrevas mais.
Desavergonhada e arruaceira, que escreves já sem eira nem beira, onde pensas tu chegar?
Bem longe, lá onde não podes controlar!
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