Na vida existem os homens e depois existem os outros.
Os outros são aqueles que com a simples nobreza do encadeamento de palavras, suportadas por majestosos sentimentos a elas amarradas, transformam a vida numa "coisa" completamente certa e sedutora. São eles que atribuem sentido ao sentir.
E nesse campo, em português, quem melhor que Alberto Caeiro, heterónimo de Fernando Pessoa, O Mestre, como era conhecido, o mestre da sensação, quem melhor do que ele para nos falar do que sentem as almas que pensam no que sentem, que lhes dão nomes, formas, abstractas, concretas, reais e com memórias de sangue e sono curto:
"Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distracção animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero. Quero só
Pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar."
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distracção animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero. Quero só
Pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar."
Pensar, este foi o mesmo homem que um dia disse:
"(...)
Creio no Mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar..."
E a única inocência é não pensar..."
Aqui não se prova uma incongruência, provam-se estados de alma.
Prova-se que o que hoje é certo amanhã não o será por certo.
A vida é assim mesmo.
Um desencadear de movimentos, de acções e implicações, o que fazes reflecte-se em quem tens contigo, o que és influência o que te dão.
O mundo acaba por ser sempre antropocêntrico, queremos o que é melhor para nós, sim, pensamos no bem estar dos outros, não os queremos magoar, mas na última instância, no último reduto, é sempre sobre nós que recai a preferência, quando assim não é, vamos contrariados.
Mesmo quando estamos a fazer alguma coisa por alguém, estamos a fazer porque queremos, essa liberdade dorme connosco, come connosco à mesa, passeia-se contigo pelo chuveiro à velocidade dos teus furiosos pensamentos.
É impossível não pensar, não dizer, não encadear, não deixar fluir a torrente que corre pelo cérebro e cai como cascata na ponta da língua ou na ponta dos dedos.
Não pode. não tem, não deve suster a vida nos seus medos, nos seus segredos, nos tormentos impostos pelos tortuosos pensamentos.
Em certa medida, Caeiro tem razão quando diz que "pensar é estar doente dos olhos", em certa medida, é mesmo!
Porque a vida é na verdade uma coisa complicada.
Temos de ser gestores das mais diversas áreas, saúde, economia, finanças, política, trabalho, desporto e lazer, engenheiros, médicos, psicólogos, doentes, utentes, praticantes, ouvintes e falantes, criadores e criativos, expectantes e contemplativos, e viver assim uma vida não é fácil, até porque a margem de manobra para fugir ao obrigatório, ao que temos de ser e ao que esperam de nós, é praticamente impossível.
Já aqui falei tanta vez de coisas que chegam a ser estúpidas de tão básicas e ousadas de tão difíceis que são de alcançar, mas na verdade, talvez seja esta a grande premissa do meu discurso.
O Pensamento.
Divergente, convergente, lateral, inconsequente, furioso e indecente, sereno e condescendente, amante e inteligente, puro e paciente, frontal e permanente.
Não há poder maior que o do pensamento.
Não tento encontrar, porque só para o fazer já estou a pensar...
Bolas, imaginar a luta de Alberto Caeiro faz-me... pensar.
E outra vez.
O que queria ele provar?
Calço os seus sapatos, visto o fato de caqui, pego o caderno e a caneta e sigo rumo ao miradouro de Nossa Senhora do Monte, na Graça.
Lisboa é mais bonita vista de cima e de lado, vista de frente, no rio, também tem o seu lado engraçado.
A dor é uma sonegadora do pensamento livre.
Ela amarra-te, prende-te, consome-te, uns dias mais, uns dias menos, uns dias de forma mais subtil, noutros não tem dó nem piedade, não descura na maldade, arrisca e parte para a estupidez, atinge-te uma e outra vez, no que estará ela a pensar?
É simplesmente dor.
Quem pensa aqui és tu. Tu é que estás a castigar-te a ti própria na procura das causas do sofrimento, estás a sofrer ponto, porque hás-de querem que ele tenha o dobro do peso, aceita a dor e livra-te dela, quando o conseguires fazer, mas não a leves contigo no bolso, no casaco, nas calças, na mala ou na carteira.
Ela tem de poder chegar e voltar a partir, sem que a prendas, sem te perceberes que o estás a fazer.
Não me parece difícil de perceber.
Sim, claro que é bem mais fácil dizer do que fazer, mas também é mais fácil não dizer e não fazer NADA! Pensar que, "não consigo e não sou capaz" porque não quero e não sei como se faz.
A vida dá-te estaladões no focinho e tu procuras devolver com... carinho!
Aqui sim, nesta altura, recorda o objecto primordial da decisão que tomas, o antropocentrismo, e vive, mas vive por ti, lá está!
Não penses em ninguém mais. Transforma os redutos finais, em princípios iniciais, em maturações de ideais, em aperfeiçoar de estratégias rumo a um futuro desconhecido, mas que se quer pintado em formas não caóticas, em cores que não as que choram ou fazem chorar, com músicas que fazem o coração arrancar, corpo que se arrepia e a temperatura que varia e de que falamos afinal? Da vida, tal e qual.
E agora? Fazer o quê?
Parece-me, que se perde tempo precioso, no caminho tortuoso da procura do sentido do que está para vir, da capacidade de o enfrentar, do perigo de voltar a escorregar, do medo de não conseguir enfrentar, encarar, levantar, abraçar, conversar, partilhar, vender, comprar, receber e entregar, ouvir e calar, perceber e questionar.
A vida é isso mesmo e mais do que isso.
A vida é lidar com ela enquanto ela corre.
A vida é jogo de cintura.
E às vezes o pensar é estar doente dos olhos! Tem de ser, é bom que às vezes possa ser assim.
Quando não vemos, sonhamos, imaginamos, e imaginar tem de ter sempre uma conotação positiva.
A imaginação é o mais prodigioso sentido que o homem recebeu na sua criação.
A imaginação tem apenas 2 cordéis, um que a liga ao pensamento e o outro que a funde com o coração, e que fantástica combinação.
Estás pronto?
Pergunto de outra forma. Preparado?
Sei que sim.
Agora vive!
Descobre.
O hoje é aqui e agora.
O amanhã?
Logo vês quando acordares e passeares por Ele fora.
Uma coisa é certa, por muito que queiras, nunca vais conseguir saber o que vai acontecer entre o acordar e o deitar.
Lembra-te, é de pessoas que estamos aqui a falar. Consegues dizer que das pessoas sabes sempre o que esperar?
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