26 de janeiro de 2010

E se fosse possível?

Surpeendido acordo pela manhã, olhos meio inchados, boca seca, tshirt molhada, pés frios.   Frios, muito frios os dias que antecederam esta manhã gelada que me secou a boca e me enregelou os pés.
Não percebia bem porque razão tinhas os pés frios, a boca seca, tudo bem, bebi demais ontem à noite, com o tabaco, tanto pior, mas os pés frios, os pés frios era.... esquisito, ahhh, não sei explicar.
Fui até à casa de banho, onde percebi que ainda tinha os olhos meio inchados, a boca gretada, pensei que seria do whisky mas não, eram gretas provocadas pelo frio, mas os pés não tinham gretas.
  Reparei, ao passar as mãos pela cara, que tinha as unhas sujas com terra, dentro das unhas, numa proporção estupidamente estranha. Lavei as mãos, e não tornei a olhar para as unhas.
  Fui até ao frigorífico, servi-me de um belo e habitualmente gelado copo de Coca-Cola, e bebi-o praticamente de uma vez, sentia-me no meio do deserto da tunísia, sequioso, gelado de febre, desidratado, e caminhava com uma leveza estranha.
Segui a rotina normal dos dias e fui ver se tinha mensagens no telemovel, ou alguma chamada. Tinha 2 mensagens tuas, que adoro ler ao acordar, estavas preocupada por serem 16h da tarde, e eu ainda não ter acordado, já me tinhas ligado para casa inclusivé, não ouvi nada. Tentei-te ligar, mas não estava a dar, dava erro de ligação. Tentei de casa, não dava, parecia que de repente tinha acontecido qualquer coisa de completamente anormal em meu redor.
Liguei à minha mãe, também estava desligado, o meu irmão, também desligado, o meu melhor amigo, também desligado. Parecia propositado.
Tomei banho, vesti-me e saí à rua.
Liguei a vEsPa e fui andando. Outra coisa estranha que me aconteceu, passei em 21 semáforos, 19 cruzamentos e 3 rotundas, e nunca precisei de travar, tudo verde, cruzamentos livres, rotundas vazias.
  Era como se toda a humanidade me estivesse a evitar. E eu? Tranquilo da vida.
Bem, parei, no alto do Parque Eduardo VII, a ver o rio, a olhar para ti, a imaginar onde estarias. Voltei a ligar-te, voltou a não dar, por fim consegui... Chamaste por mim, comecei a falar e tu só dizias: "tou? tou? tou...!!? quem fala? Como é que arranjaste este telefone. É do meu..." e começaste a chorar.
Tentei acalmar-te, mas estava eu mais nervoso do que tu, porquê?
Porque durante o tempo em que estiveste a fazer perguntas e a chorar, eu estive sempre a falar, e tu não ouvias nada do que eu dizia, nem sequer falaste directamente, parecia que estavas a falar para algum desconhecido, parecia até que....
EU TINHA MORRIDO!
Espera lá?? Que estúpidez completa, se eu morri como é que tenho telemóvel, vEspA, estou no Parque Eduardo VII a ver o Rio Tejo, a ver-te a ti, a ligar paaaara ti..
Mas a bem dizer ainda nem consegui falar contigo hoje e jã são 20h00, ninguém me atende o telefone, tu atendes e pouco tempo depois desatas a chorar?
O que se passa?
Decido o mais óbvio.
Vou me tentar aleijar...
Tento, mas... não consigo tentar. Não consigo pensar.. Estou bloqueado. Estou, naaa, não pode ser.
Estou morto.
O quê??
E tu? E a Maria InÊs?? e, tudo, e a minha mãe? o meu irmão..? O meu irmão.
Será por isso que tenho as unhas com terra, porque saí do buraco para passear?
Passado um bocado o telefone toca.
Onde é que o telefone de um morto toca? Onde é que um morto ouve o telefone a tocar? Ele até pode ter um telefone, mas depois como é que lhe carrega a bateria?
Ahh, agora é que te apanhei, mas estou a ficar sem bateria.
Volto para casa, ninguém me diz nada, volto para a cama, não quero saber.
Volto a acordar, outra t-shirt, agora seca, pés quentes, boca normal, afinal onde estive eu ontem?
Ligo-te, os pés tão quentes, não tenho meias, não quero luvas, é verão, mas onde estive eu então?
Não tinhas acordado ainda, mas parece que ainda há pouco estive aqui, mas não estiveste, quem te diz que eu não morri?
Que parvoíce, ainda agora acordaste e já tás a dizer asneiras Martim?
Sou eu, sou quem sou, acordei assim, mas diz-me se não é por ser parvo que gostas de mim?
Gostava que um dia voltasses para junto de mim.
Mas eu estou aqui.
Eu sei, dizes tu, mas eu já não saio daqui.
Apanhas-lhe o jeito, digo-te baixinho.
Se viver a teu lado, é viver a sorrir, porque não posso brincar com o que há de vir?
 Ou já veio.
Cala-te palerma.
Nem tudo pode ser feio.
Nem tudo pode durar.
Mas digo sem receio, enquanto dura, leva a vida a brincar.

4 comentários:

Anónimo disse...

big martin... acompanho o teu blog ás uns tempos e vou-me deliciando com o que escreves. Num ponto ou noutro identicando-me sempre..
Mas sem dúvido que este post é um dos mais fantásticos que já li...
Muitos parabéns, pela mente fantástica e poder de escrita ainda maior.. xD

" a minha mente muitas vezes é um palco... onde vejo várias personagens entrarem em cena"

Martim Mariano disse...

muito obrigado...
Não sei quem és pelo que não te posso agradecer de forma mais efusiva...
assim, fica um respeitoso obrigado.

Rita disse...

Acabaste de tornar algo possível e de génio. A parte final está mesmo... Genial

Catarina disse...

muito bonito...eu também espero!e sempre ouvi dizer que "quem espera alcança!devias escrever um livro!força*ou melhor calma (talvez na espera esta seja mais importante do que a força=)plim