15 de setembro de 2012

NOVE quinzes de Setembro depois

Ainda parece tão... fresco.
Ainda soa tão... estranho.
Ainda... Ainda Belé, ainda.
Hoje, 15 de Setembro de 2012, nove quinzes de Setembro depois do 15 de Setembro que marcou  a vida dos teus familiares e amigos, e outros que nada disso, mas que ficaram igualmente marcados, aqui estou para te contar algumas das coisas que se passaram durante estes nove anos.
Já houve casamentos e ajuntamentos, separações e confusões, mais casamentos e ajuntamentos, e agora aguardamos mais alguns nascimentos de lindos e pequeninos rebentos que ajudarão a perpetuar memórias do que fomos, do que vimos, do que fizemos e de tudo aquilo que conseguimos.
Tens visto tudo, bem sei, mas ao mesmo tempo acho que te faz falta ouvir-nos de quando em vez, acho que te sabe bem que te contemos as histórias cá de baixo.
Hoje, houve quem fosse para falar contigo e se deparasse... com a tua ausência!
Daqui podia nascer um enredo de filme, uma narrativa prodigiosa em torno de um qualquer milagre de ressurreição, que faria Cristo corar de vergonha, por pensar que tinha conseguido em 3 dias, o que tu farias em 9 anos, exactamente 9 anos depois do dia que marcou uma tristeza incomparável na vida de muitos de nós.
Mas não.
Mudaram-te de sítio.
Agora sim..
Puseram-te numa caixa, coitados, acham eles que te podem algum dia engavetar, triste sorte a de quem te enterrou na morte, julgando que te estava de facto a enterrar.
Continuas vivo, bem vivo, presente e bem presente, em tudo o que é mente da gente que te acompanhou.
Miguel Ângelo Simões Henriques.
Miguel.
Belé.
Vneno
Hups
Lip
Troll
Narigão
Narigudo.
Pencudo.
Sei lá mais o quê.
Um grande amigo. Um dos melhores e mais intensos amigos que tive na minha vida.
O tempo ajuda a entender e maturar as coisas no pensamento, ajuda a tornar mais dócil  o sofrimento, ajuda... ajuda! O tempo tudo cura e faz a cama à dor.
Nunca esquecerei o teu olhar. O bom e o fodido. De raiva. De revolta. De orgulho. De peito feito e bolso vazio.
Vivemos tanto e tínhamos tanto para viver, no fundo é essa a causa de muita da dor, tínhamos tanto para viver.
Ia gostar de te ver agora, como tio.. Dos bebés que estão para chegar.
E sei que tu ias adorar!
Estou desde manhã a pensar para onde é que te foram mudar?
Sabes, hoje trabalho num canal de televisão, no mesmo que me confirmou a tragédia que te levou, é irónica a vida, é.
Por isso te digo que esse dia, o dia 15, o dia 15 de Setembro de 2003 foi, na verdade, um dos dias mais tenebrosos da minha vida, um dos dias mais surdos, mais cegos, mais brutos, dolorosos, incompreensíveis, esgotantes e desprezíveis que tive a infelicidade de viver.
Mas vivi-o, eu e todos os que te conheceram e que de cuja vida fizeste parte.
Obrigado Miguel.
Hoje e sempre.
Sabes, não penso em ti todos os dias, não penso e digo-te isto com franqueza.
Talvez o ter saído de Stº António me tenha ajudado a isso, talvez tenha tido esse um secreto desejo meu, mas sabes, quando penso, sorrio, sorrio, recordo, relembro, desmancho-me, aprendo e esfrego as mãos, respiro fundo, franzo a testa, e que o resto da vida seja uma festa.
E isto saiu no dia do teu funeral.

http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/portugal/descarga-mata-vneno

Como esquecer?
Durante anos fugii da estação do Rato.
Durante anos...
Depois, um dia... fui lá, ver, falar contigo.
Vivi perto e soube bem.
Até um dia, te digo eu também.
Não sei se me perderei na auto-estrada para onde estás, não sei se de facto ainda... estás, mas olha, enquanto o tempo me permitir escrever e articular a simplicidade do pensar, em palavras que não se atropelem com a ânsia de te segredar um abraço, não me faltarão forças para falar contigo e para te levar comigo na durabilidade efémera da vida.
Um abraço meu amigo, um abraço.

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