23 de setembro de 2008

Sensações

Abandono o transporte, sinto-me pesado, frio, amargurado, apático e amorfo, no fundo sei que estou indiferente a tudo o que à minha volta acontece, acções, palavras, movimentos, pessoas também, a praticamente tudo.
Lentamente vou caminhando, atordoado por uma inexplicável inércia, que me obriga a caminhar muito devagar, enquanto tento perceber, porque razão estou eu a caminhar se na realidade o meu corpo não quer andar. Encontro facilmente o meu inimigo e adversário natural, o meu pensamento, o meu cérebro. O que posso eu fazer para o contrariar?? Resposta óbvia, NADA!!!
Dobro a esquina e encosto-me à parede, tentando descansar, sinto-me exausto ao fim de cinco minutos de caminhada, falta-me o ar, circula lentamente e mais pesado do que eu. Subitamente, aproxima-se de mim um estranho ser caminhando a alta velocidade, detém-se à minha frente e pergunta-me as horas, cabisbaixo, fingo não perceber uma única palavra daquilo que aquele velocista me diz, como se de facto ele estivesse a falar um qualquer idioma que nunca antes tivesse eu escutado, mas o homem, não contente com ausência completa de uma simples resposta, resolve retorquir a pergunta, desta vez, acompanhada de um pequeno mas incomodativo toque no braço esquerdo. Desculpa, tem horas que me diga por favor? Tamanha educação, mas no entanto não me apetecia sequer abrir os olhos, mas eis que o meu inimigo resolve tomar o controlo da situação. Subitamente os meus ouvidos ouvem lá longe: São 21h30, exactamente, era eu a responder, contra a minha própria vontade, inicia-se então um conflito utópico, capaz de durar por horas, ou mesmo dias, dependendo da dimensão da minha apatia e da minha falta de vontade, despoletadas pela tristeza que me cola os pés ao alcatrão.
É tarde, mas não me apetece mexer para lado algum. Dou-me por vencido e deixo que o meu inimigo me conduza, seja lá para onde for que o traste queira ir, não tenho outro remédio senão baixar os braços, e simplesmente caminhar na direcção por ele tomada, vou a contragosto, mas vou.
Boa noite, dorme bem Lisboa, agora que de ti me afasto, ao menos diz-me se gostaste da minha não companhia.
Aquele beijo para ti, limpa-te, estás tão suja, essa cor não te favorece.

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